Paisagens Brancas (2006)






Neste meus trabalhos existe uma aproximação com as obras de Richter no sentido da procura da negação da imagem pictórica, embora a sua cor predilecta para essa anulação seja o cinzento. Richter não só faz uma uniformização na passagem da imagem pictórica para a tela, começando desde este momento a reduzir os elementos de representação. Daí na reprodução da imagem ele torna-a cinzenta e noutras desenvolve um processo de difusão como que essa imagem está “apagada” na memória e intensifica a nostalgia e sentimento de perda. Esta redução é feita desde a uniformização do tamanho dos trabalhos, quer pela uniformização da paleta cromática quer pela apresentação dos trabalhos no espaço expositivo. Richter ao fazer seriação de trabalhos, sendo eles monocromáticos, do mesmo tamanho, faz com sejam uniformes de forma em que se perca a lembrança da personagem representada. Desta forma os escritos de walter Benjamin está patente quando ele se refere à reprodutibilidade da imagem, que todo o seu conteúdo histórico e a sua magia consomem. Apesar disso é uma forma dessa imagem chegar ao observador. O artista procura desta forma esvaziar de conteúdo e criar um mundo de aparência e ilusões.
Enquanto que no meu trabalho procuro intensificar ou até criar novos elementos pictóricos para que o resultado final possa transparecer alguns desses momentos surgindo uma nova paisagem. A uniformização do tamanho dos trabalhos está presente, sendo como uma janela para a natureza sem que isso vá limitar a visualização da mesma.
Richter ao fazer a negação da imagem pictórica, quer faze-lo de uma forma uniforme e sem deixar vestígios do momento anterior. O conjunto de trabalhos “Grau” como o próprio nome indica a cor predominante é o cinzento como uma necessidade de destruição da imagem de uma experiência passada. Assim o aparecimento de trabalhos completamente cinzentos podendo alguns terem alguns sinais do branco. Com estes quadros, ele quer precisamente criar momentos de distanciamentos sobre uma realidade que esporadicamente esse cinzento pode-se tomar algumas nuances cromáticas. Pois apesar desse distanciamento tem-se uma percepção enganadora desse momento.




Este projecto à primeira vista parece ser integrado na arte abstracta dado que tem a pretensão da libertação da representação pictórica. Estes trabalhos estão esvaziados de imagem, apenas contém preocupações matéricas, ou seja a reacção dos materiais sobre o suporte. A paleta reduzida e o sentido compositivo criando forças dinâmicas é o que caracteriza estes trabalhos. Existe uma tentativa de aproximação dos trabalhos de Malevitch (com branco sobre branco) e Rodtchenko (como preto sobre preto) onde a abstracção é absoluta. Tendo como finalidade da libertação dos valores estéticos e a valorização da significação da cor e da materialidade.


Contudo não se pode dizer que os meus trabalhos sejam abstractos, apesar se ter uma paleta bastante reduzida existe algo além da cor. A presença de profundidade, de uma espacialidade de uma nova realidade. Neste ponto de vista existe uma aproximação com os trabalhos de Vieira da Silva. Da mesma maneira a presença de um novo espaço apesar de não haver a representação de uma imagem. A criação destes novos espaços é igualmente representada com uma gama cromática reduzida.